Sessão de 25 de Fevereiro 2009 do Grup’Eco
O livro que discutiremos na próxima sessão não reunirá, julgo eu, reacções consensuais, como aliás deve acontecer com qualquer obra estética. Se é a violência que surge ao primeiro olhar pelo enredo do livro que parece predominar, o texto, na minha opinião, tem muito mais que se lhe diga. Do próprio estilo do Autor, cadenciado e por vezes algo encantatório, parece-me vir um tom pacificador para o leitor, contrastando com a agitação provocada pelo baque dos disparos, a agonia dos moribundos, o silêncio dos mortos, a frieza do criminoso.
Para lançar a nossa discussão sugiro-vos que reflictam sobre duas passagens do livro:
– A primeira, na página 56, «Basta um pequeníssimo esforço para governar pessoas de boa índole. Um pequeníssimo esforço. Quanto às pessoas ruins, é impossível governá-las. Ou se é possível, nunca tal me chegou aos ouvidos, pelo menos.», sugere-me várias questões:
- Haverá pessoas só de boa índole ou só ruins? Porque estas personagens parecem sê-lo, mas são personagens de ficção, por muito realista que o livro seja…
- A posição de quem governa poderá ser comparável, como o texto sugere, à de Deus? Não será um caminho para a prepotência pensar assim?
- O bom ou mau governo, ou uma posição social em que se mantém uma ordem, influenciará assim tanto a conduta individual de cada cidadão governado?
– A outra, na página 85, «Pensou em imensas coisas, mas o pensamento que não deixava de o assaltar era que, mais cedo ou mais tarde, ia ter de parar de confiar unicamente na sorte.», leva-me a propor a discussão em torno da sorte, do acaso ou do destino que, construído no ambiente ficcional pela pena do Autor, parece ter na realidade que lhe serve de modelo ou inspiração, um peso enorme nos percursos individuais de cada ser humano.
Não gostava também que deixassem de reparar mais atentamente, para além do conteúdo do enredo do livro, na sua forma, na própria arquitectura do romance que, a meu ver e apenas para vos aguçar o apetite para a discussão, tem logo a evidente característica de começar com a violência de «Mandei um moço para a câmara de gás» e terminar com a possível redenção de «E foi então que acordei.»
Não gostava também que deixassem de reparar mais atentamente, para além do conteúdo do enredo do livro, na sua forma, na própria arquitectura do romance que, a meu ver e apenas para vos aguçar o apetite para a discussão, tem logo a evidente característica de começar com a violência de «Mandei um moço para a câmara de gás» e terminar com a possível redenção de «E foi então que acordei.»
Cláudia Sousa Pereira
2 comentários:
Sobre a discussão de Este país não é para velhos de Cormac McCarthy
Como o previsto, as opiniões dividiram-se. Se para alguns foi a temática que, ao revelar o mundo de violência em torno dos actualíssimos e avassaladores negócios da droga, tanto desagradou como fascinou, para outros foi o entrelaçar do enredo com os monólogos interiores de uma das principais personagens que conferiu interesse ao livro.
Inevitavelmente, discutiram-se personagens como se discutem pessoas de carne e osso, mas também se descobriram artifícios literários, liberdades de autor que permitem encaixar um leitor de 2009 num mundo criado pelo autor em 2005 e que coloca os acontecimentos nos anos 80 do século XX. E, pela leitura em voz alta de alguns excertos, percebemos a poesia que parece não haver num livro de ficção onde predominam mortes violentas e situações de thriller.
Ficámos quase todos com vontade de ler outros romances de Cormac McCarthy, um autor que parece ficar para a história da literatura norte-americana.
Cláudia Sousa Pereira
Que belo tabalho! :)
Que pena não morar em Évora! :(
Espreitem http://clubevirtualdeleitura.blogspot.com/ e, se vos apetecer, fiquem um pouco connosco...
Um abraço.
it
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