26 junho 2009

Os livros e as bibliotecas no espólio de D. Frei Manuel do Cenáculo

Apresentação de livro

Os livros e as bibliotecas no espólio de D. Frei Manuel do Cenáculo,

de Francisco Vaz (coordenador)



30 de Junho Terça-feira
18.00 horas


Com a presença do autor
Apresentação por João Brigola

Entrada livre mediante inscrição prévia

A obra:

Este livro reúne uma parte substancial dos resultados de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, desenvolvido na Universidade de Évora e intitulado: Os Livros e as Bibliotecas no Espólio Bibliográfico de D. Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814). Apresenta-se o repertório de textos manuscritos e inéditos de D. Frei Manuel do Cenáculo, com interesse para o tema do projecto e essencialmente existentes nos fundos bibliográficos da correspondência e do diário, que compreendem documentos dispersos por várias bibliotecas, a Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, a Biblioteca Pública de Évora e a Biblioteca Nacional de Portugal. Além do repertório de todos os documentos coligidos, transcrevem-se na íntegra 248 textos de Frei Manuel do Cenáculo considerados essenciais para o tema em análise, nomeadamente, as cartas, as relações, os planos
de estudos, os róis de livros, que surgem muitas vezes anexos às cartas, e os catálogos de donativos a bibliotecas. Com a presente obra ficam à disposição dos investigadores e do público em geral informações relevantes para a História do Livro e das Bibliotecas e outras áreas em que a acção de Frei Manuel do Cenáculo está amplamente comprovada: as antiguidades, a arqueologia, o ensino, a pedagogia, a filologia, a museologia, a literatura e o reformismo social e económico.


O autor:

Francisco António Lourenço Vaz

Nasceu em Pinelo, concelho de Vimioso, em 1955. É Licenciado em História pela Universidade do Porto, Mestre em História Cultural e Política pela Universidade Nova de Lisboa, Doutor em História da Cultura Moderna e Contemporânea, pela Universidade de Évora. É Professor Auxiliar com Agregação, do Departamento de História da Universidade de Évora, Investigador do Centro de História e Filosofia da Ciência e Director dos Curso de Mestrado em Ciências da Informação e da Documentação.
Entre os trabalhos que publicou destacam-se: As Ideias Pedagógicas em Portugal nos Fins do Século XVIII – Bento José de Sousa Farinha (1992); A Difusão das Ideias Económicas de António Genovesi em Portugal (1999); Évora Lastimosa e Outros Textos Sobre o Saque de Évora pelos Franceses em 1808 (2002); As Bibliotecas e os Livros na Vida e Obra de D. Frei Manuel do Cenáculo ( 2003); Livros e Leituras para Instrução Económica do Povo (2004), Frei Manuel do Cenáculo Construtor de Bibliotecas (2006); O Saque de Évora pelos Franceses em 1808. Textos Históricos (2008). Na tese de doutoramento, intitulada Instrução e Economia as Ideias Económicas no Discurso da Ilustração Portuguesa (1746-1820), Lisboa, 2002, traça com pormenor a afirmação da Economia na transição do Antigo Regime para o Liberalismo e analisa as ideias e projectos de três dos nomes mais representativos
do movimento das Luzes em Portugal: D. Frei Manuel do Cenáculo, Ricardo Raimundo Nogueira e José António de Sá.


Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814) – uma figura inspiradora.
Um mecenas com projectos, um intelectual culto, informado e aberto ao mundo


João Carlos Brigola. Universidade de Évora e Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência (CEHFCi)

A publicação pela Biblioteca Nacional de Portugal da obra intitulada Os livros e as bibliotecas no espólio de D. Frei Manuel do Cenáculo, coordenado pelo docente da Universidade de Évora, Francisco Vaz, constitui um pretexto mais para invocarmos a figura inspiradora de Cenáculo.
Houve na vida do frade franciscano um momento de criação original que lhe haveria de moldar a personalidade e alimentar o ideário: a viagem que empreendeu a Itália com apenas vinte e seis anos. O Grand Tour tornara-se por essa época um programa obrigatório para a formação das elites europeias, pela aprendizagem visual e experimental das formas de governo e de cultura de outros povos, bem como dos testemunhos materiais e morais da antiga civitas romana. Para um jovem português, proveniente de um território geograficamente periférico, de uma nação sedentária formatada em vivências tradicionalmente castiças e gregárias, mergulhar numa jornada de vários meses por cidades espanholas, francesas e italianas, visitando bibliotecas, museus e universidades, viria a representar uma autêntica redenção espiritual. Em Roma encontraria aliás um dos seus maître a penser, modelo de intelectual católico, progressivo e ilustrado, que perseguiu durante toda a sua longa vida – o prefeito da Biblioteca Vaticana, e arcebispo de Brescia, Angelo Maria Querini. Nesse mesmo ano de 1750, Querini fez pública doação da imponente biblioteca particular, em parte retirada do Vaticano, aos povos da sua diocese. Gesto que veremos Cenáculo assumir, mimeticamente, em 1811 na cidade alentejana. Instituições de criação episcopal, continuam a cumprir hoje, na Lombardia como no Alentejo, a missão e a vocação de serviço público traçadas há dois séculos. É esta pulsão cosmopolita que constitui um dos aspectos mais originais da sua forma mentis: correspondência copiosa com intelectuais europeus, informação actualizada e aquisição de novidades bibliográficas e de objectos da Arte e da Natureza, visita constante de estrangeiros à sua residência episcopal, biblioteca e museu, algumas delas relatadas em livros de viagem ou em epistolário (Anasthasio Franco y Bebrinsaez, Rafael Rodríguez Mohedano, Francisco Pérez Bayer, James Murphy, José Cornide y Saavedra).
Mas a modernidade da praxis cultural do intelectual comprometido com o seu tempo, e com os ‘Povos’ da sua pastoral, pode igualmente ser avaliada por gestos de fundo e prolongado significado. Dele se tem dito que foi um ‘semeador de bibliotecas e de museus’, característica que a obra agora editada permite comprovar através da divulgação de vasta documentação inédita: Cenáculo foi um ‘acumulador’ de livros e de objectos, um organizador incansável de colecções, mas simultaneamente um ‘doador mecenático’ de acervos fundadores de novas bibliotecas e museus – no Convento de Jesus, em Lisboa, nos Paços de Beja e de Évora, e na Biblioteca Pública da Corte, só para citar espaços culturais de maior relevo. É o próprio Diário, escrito do seu punho, que celebra a fundação do acervo eborense: “7 de Dezembro de 1804: vim para casa e fui levar o painel do Senhor entre os Doutores no Templo e colocá-lo na Frontaria da Biblioteca por ser o orago da casa e Museu”.
Um terceiro veio do ideário cenaculano é também largamente comprovável neste acervo epistolar e diarístico, que é o do seu compromisso com a sensibilidade regalista e jansenista, com resultados doutrinários anti-jesuíticos, coerente com a aceitação da filosofia política do ‘absolutismo esclarecido’ então dominante no josefismo português e praticado pela maioria das coroas europeias. Até ao cair do pano pombalino, Frei Manuel do Cenáculo foi - aceitando-se a fórmula feliz de Raymond Aron - ‘Conselheiro do Príncipe’ e ‘Confidente da Providência’. Encerrado o ciclo do homo politicus com a Viradeira, ‘o pastor de almas alentejano’ não renegou heterodoxias, antes as plasmou num programa de ‘cuidados literários’ na formação teológica e humanística dos seus clérigos. Curioso é folhear este livro, que contou com o labor investigativo de Patrícia Monteiro e de Márcia Oliveira, e (re)descobrir a revelação da escrupulosa pietas do homem da Igreja, leitor quotidiano da Bíblia e cumpridor dos rituais de oração.
Em jeito celebrativo, há que recordar duas datas merecedoras de invocação da memória: em 2011, os duzentos anos da doação pública da biblioteca e do museu e, sobretudo, em 2014, o bicentenário da morte de D. Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas, arcebispo de Évora.

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