20 junho 2008

Filosofia e História da Ciência - Lançamento de Livro

Alguns nomes se destacam, a par de outros que são também analisados: Luís Archer, Vitorino de Sousa Alves, Manuel Antunes, Alfredo Dinis, empreendendo um combate comum pela concepção da ciência ao serviço da dignidade da pessoa humana, convergindo num humanismo científico que encara a técnica ao serviço da nobreza do espírito e deixa de entender, por isso, a ciência como inimiga da religião e da espiritualidade, mas antes como sua manifestação.

Aproximando-nos do final do século, a tendência que nos mostram os autores deste trabalho é a que se dirige ao aprofundamento da epistemologia, sobretudo das novas epistemologias em torno de Koyré, Canguillem, Bachelard, Popper, Kuhn e outros, destacando a importância inegável do magistério de Fernando Gil e de duas publicações periódicas onde estas questões encontram lugar próprio: a Análise e Filosofia e Epistemologia.

Não esquecendo a pretensão de Rodrigues Martins, que acima expressámos, este livro dá-nos também uma informação precisa sobre aspectos relevantes da história da ciência em Portugal no século XX, seja no âmbito dos congressos científicos, seja no que se refere a instituições de relevo, como a Universidade de Coimbra e a Academia das Ciências, sem esquecer a análise da obra dos três grandes historiadores da ciência no Portugal do século passado: Joaquim de Carvalho, Luís de Albuquerque e Rómulo de Carvalho.

Ao cabo de uma leitura cuidada, fica-nos a impressão de um espaço articulado de tantas e tão complexas tendências, abordadas com a preocupação de conciliar a vertente erudita e problematizadora com a vertente pedagógica de divulgação de uma das áreas menos conhecidas da cultura portuguesa do século XX.


Estas foram as palavras com que Pedro Calafate (Centro de Filosofia - Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) terminou o Prefácio de Filosofia e História da Ciência em Portugal no século XX. O lançamento desta obra decorreu ontem, dia 19 de Junho, ao fim da tarde, na Biblioteca Pública de Évora, em que após breves palavras do Director, Pedro Calafate apresentou em traços gerais o conteúdo da obra. Aproveitou também para tecer alguns elogios sobre "a capacidade de trabalho em conjunto" dos três autores e amigos, que mostraram "coerência [de escrita e ideias] do princípio ao fim" da obra, algo que P. Calafate confessou ser difícil de encontrar noutras monografias escritas em conjunto.

Augusto Fitas (Doutorado em Física) começou por levantar um pouco o véu sobre como surgira este projecto. Afirmou que P. Calafate tivera alguma responsabilidade na escolha da "ideia fundamental do tema". Até aqui, em Portugal "não havia nada sobre as ideias ligadas à construção e história do pensamento científico", segundo A. Fitas, e a "Filosofia da Ciência era feita à margem da História e a História da Ciência era feita à margem da Filosofia (...), daí a preocupação em juntar estas perspectivas", completou mais tarde Marcial Rodrigues (Licenciado em Filosofia).

Maria de Fátima Nunes (Doutorada em História) acabou por desvendar que o "motor de arranque" e o principal responsável pelo iniciar do projecto fora M. Rodrigues. A obra resultou da continuação de uma investigação iniciada à dez anos no Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência, que viria a ser publicada em 2000, sob a direcção de P. Calafate - História do Pensamento Filosófico Português.

Esta monografia, que nas palavras de A. Fitas "nenhum dos capítulo foi escrito a duas mãos, mas que resultam de três leituras", veio à luz como "resultado de três formações muito diferentes: Física, Filosofia, História".

Marcial Rodrigues terminou a sessão de lançamento com algumas palavras de Fernando Gil, a propósito das recessões críticas encerradas na obra sobre os vários autores abordados: "O autor deve ser críticado e poder responder às críticas ainda em vida".


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