21 abril 2010

Apresentação de livro de António Cartaxo na Biblioteca Pública



Amanhã | 22 de Abril | Quinta-feira

18h00


Apresentação de livro

Quase Verdade como São Memórias,

de António Cartaxo

Com a presença do autor



Para o que der e vier,

um texto de António Cartaxo


Nunca escrevi diários nem apontei relances de vida, coisas de reflexão. Vivia à pressa, sem tempo a perder, em frente pelo tapete veloz da vida, decisões, e muitas indecisões, a rolarem. Não partilhava recordações, só eu sabia de mim. Os outros sabiam o que viam. Pessoa fechada, já se vê.

Isto até conhecer Rosa, mãe de meu filho, ou melhor, até este nascer e outra vida principiar. Comecei então a contar­‑lhe histórias da minha vida. E ela a dizer: tens de escrever as tuas memórias. Eu?! Tam­‑tam, tam­‑tam. Tens de escrever as tuas memórias, insistia, julgo que porque sentia, com parcialidade, ou com a objectividade possível, que aquilo que eu lhe contava valia a pena ser contado a outros.

Um pouco, também, porque sentia que as memórias me faziam feliz. É verdade.

As memórias fizeram­‑me quem eu sou. Tal como sucede a outros, sem memória ficaria num mar de desordem do presente, perdido do mundo e de mim mesmo.

Passavam os meses e os anos. No país onde vivíamos, da sala ao fundo da casa, soavam, ao piano, Bach, Chopin, Scriabin… Em estudo. Primeiro tenteantes, depois ganhando forma até à arquitectura da criação original, música de fundo para nova fase da vida.

A Rosa quis deixar a minha vida íntima. Faltou­‑lhe que eu lhe desse tempo romântico. Mas insistiria sempre: tens de escrever as tuas memórias. Tam­‑tam. Tam­‑tam. Já começaste? Para ele saber um dia.

Enfim, não só por uma questão familiar, abri o arquivo das recordações. Não escrevo com saudosismo nem com saudade, porque o meu lema é futuro. Está em epígrafe: “para o que der e vier”.

Arranjei maneira de associar, a cada longo instante, uma obra musical, músicas não para levar para a aventura numa ilha deserta, que não há e eu jamais demandaria, mas sem as quais eu não teria passado por este mundo como tenho passado.



O autor


António Cartaxo escreveu e publicou sobre diferentes interesses seus e agora escreve sobre a sua vida e o seu tempo. Sobre Cultura Inglesa e a didáctica do Inglês publicou, na Editorial Presença, These Islands e English Prose Composition. Palavras em Jogo (Editorial Caminho) foi uma incursão lúdica no charadismo que cultivou desde a adolescência no Jornal juvenil Mundo de Aventuras. A descoberta e a divulgação da grande música (Ao Sabor da Música e Efemérides Românticas, Editorial Caminho) foram o prolongamento das realizações radiofónicas que há mais de três décadas o autor produz para a Radiodifusão Portuguesa.

As suas dramaturgias radiofónicas mereceram-lhe diversos galardões internacionais: “Special Award” da BBC (Londres entre duas décadas); Você gosta de Beethoven e Bela Bartok e Nós, Prémio Pro Musica, Rádio Budapeste; Stravinsky – o Homem e a Obra, Prémio Ondas de Rádio Barcelona; Das Cinzas renasceu o Belo, Prix Musical Rádio Brno. Em 1987 foi Prémio Gazeta de Jornalismo, modalidade Rádio, com um programa sobre Fernando Lopes-Graça.

Nos 50 anos da entrada das Brigadas Internacionais na Guerra Civil de Espanha, realizou uma produção radiofónica que a Câmara de Barrancos editaria em CD em 1999, sessenta anos após o fim do conflito.

É autor de uma original versão radiofónica de Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky. Transplantou a arte de fazer rádio para dois CD que acompanham os livros de Rosa Salvado Mesquita, O Meu Primeiro Mozart e O Meu Primeiro Chopin, publicados pela D. Quixote.

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