25 fevereiro 2010

Conhecer Cenáculo II


Conferência
O PAPEL DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO NO EPISCOPADO DE D. FREI MANUEL DO CENÁCULO
1 de Março | Segunda-feira
18h00
Conferencista: Francisco Vaz
Assinalando o 286º aniversário do nascimento do fundador e patrono da Biblioteca Pública de Évora.
ENTRADA LIVRE mediante inscrição prévia

Foi um criterioso coleccionador de livros e tinha como uma das suas preocupações centrais criar hábitos de leitura nos futuros clérigos. Mantinha correspondência com grandes figuras da época, pelos quatro cantos do mundo, estando a par do que de melhor se editava. Tudo leva a crer que foi uma figura ímpar no seu tempo.

Aqui fica um excerto do texto AS BIBLIOTECAS E OS LIVROS NA OBRA DE D. FREI MANUEL DO CENÁCULO, da autoria do conferencista Francisco Vaz.

Coleccionando livros e formando uma Biblioteca Eclesiástica
"Logo nos primeiros anos do seu episcopado, D. Manuel do Cenáculo revelou grande preocupação pela formação do clero e deu recomendações precisas sobre o funcionamento da biblioteca, cuja frequência considera imprescindível para os futuros clérigos. O pequeno regulamento que apresentou para a biblioteca do Seminário de Beja, espelha no essencial o seu pensamento neste domínio. Considera necessário um Bibliotecário permanente, que seria auxiliado pelos alunos nas suas horas vagas, para que estes se fossem familiarizando com os livros e adquirindo assim hábitos de leitura. O horário de consulta devia ser restrito, às segundas e quintas de manhã. Estipula a formação de um catálogo com os livros existentes, os empréstimos domiciliários são proibidos e deve-se cuidar que os livros sejam tratados com asseio. Ao bibliotecário competia evitar que os ordinandos gastassem «demasiado tempo na leitura de livros curiosos; ainda que na outra parte sejam úteis; mas que os podem distrair da obrigação principal». Quanto ao número de volumes desta biblioteca eclesiástica ela rondaria os 9.000 ou mesmo 10.000 volumes.

A formação de uma biblioteca não se limitou na acção de Cenáculo ao clero ele continuou a sua paixão pelos livros e pelas leituras. As numerosas cartas que recebeu, durante os 28 anos que permaneceu em Beja, comprovam que foi juntando uma grande quantidade de livros, uns oferecidos, mas a grande maioria comprados, através de agentes ou dos próprios livreiros. Fizemos apenas uma sondagem à numerosa correspondência que lhe foi dirigida. Com ela é possível constatar que os livros e leituras são um tema constante, e que durante o seu episcopado Frei Manuel esteve permanentemente em contacto com os mais diversos locais. Na verdade, tinha uma autêntica rede de correspondentes distribuídos pelos quatro cantos do mundo. Sem esgotar o assunto enumeremos apenas alguns dos mais significativos de Portugal e do império português: Lisboa, Coimbra, Évora, Goa, Brasil, Macau e Timor. Das cidades estrangeiras: Roma, Pádua, Turim, Nápoles, Madrid, Sevilha, Paris, Londres, Bruxelas, Haia, Oxford, S. Petersburgo.

Foram sobretudo agentes e livreiros que o mantiveram informado sobre as novidades literárias, nomeadamente, sobre leilões de livros raros e que lhe enviaram notícias de obras recentes; tais foram Nicolau Pagliarini de Roma, Andrés Silva de Bruxelas, Francisco José Maria de Brito, Frei António Raimundo Pascual, que foi o seu principal fornecedor das obras de Raimundo Lulio, bem como dos aspectos relacionados com a filosofia luliana. Este último, numa das suas primeiras cartas, em 1752, revela o seu espanto perante o facto de a obra de Luís António Verney circular livremente em Espanha e passados 36 anos, em 1788, informa que a Enciclopédia francesa fora proibida em Espanha, porque trazia «desacatos à Nação espanhola e ao Rei» e que por isso doravante passavam a ser detidos na aduana as obras impressas fora de Espanha. Recorrendo a estes correspondentes e agentes, Cenáculo foi juntando um valioso espólio bibliográfico, numismático e mesmo de peças arqueológicas ou de História Natural; para constituir a biblioteca para o clero, mas também um museu, ambos no paço episcopal.

Data, também, dos últimos anos do seu episcopado em Beja o valioso contributo para a criação da Real Biblioteca Pública. De acordo com a correspondência que manteve com António Ribeiro dos Santos, o impulsionador desse projecto, não restam dúvidas que se tratou de uma doação substancial, pela quantidade de exemplares e pelo seu valor. Entre as obras doadas incluía-se um grande número de manuscritos, entre os quais se destacava um Bíblia em pergaminho do século XII, sobre cuja raridade e até importância para o dogma da Santíssima Trindade discorrerá mais tarde o Bibliotecário da Biblioteca Nacional. Feita a doação para a Real Biblioteca Pública restava-lhe, ainda, um espólio considerável. Parte desse património constituiu o núcleo da biblioteca eclesiástica de Beja, mas a grande fatia transitou para Évora, quando foi eleito Arcebispo, em 1802, e foi o núcleo a partir do qual se organizaram duas importantes instituições culturais: a Biblioteca e o Museu."

O texto completo encontra-se disponível na página da BPE na Internet em
http://www.evora.net/bpe/as_%20bibliotecas_%20e_%20livros.pdf.

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